quinta-feira, 29 de março de 2012

Tatiana

Tatiana não amava há 987 dias. Era vista, pelos outros e por si própria, como uma coitada. “Que ela pare de esperar, pois quando menos se espera...” – alguns diziam. Seus amigos alegavam que era culpa dela por se fechar demais. Pobre Tatiana, culpada de sua própria solidão! 

Cansou de tanto não amar e decidiu reverter a situação. Aceitou a condição de culpada, jogou o medo fora e resolveu cair nos braços de algum rapaz. Saiu com aquele esquisitinho, só porque ele convidou. Puxou assunto com o bonitinho como quem não queria nada, na esperança de mais uma vez. Tentou, tentou, tentou. Não fugiu mais de nenhum mocinho, enfrentou todas as possibilidades de peito aberto. Sem grude, sem desespero, apenas livre de si própria.

O tempo passando, a cabeça leve e todas as oportunidades sendo atendidas, e a menina continuava só. Houve quem tivesse raiva da solidão de Tatiana. Uma moça com tantas qualidades, sozinha há tanto tempo... O mundo só podia estar errado! “Vai ver ela tem chulé” – alguns proclamavam na tentativa de uma explicação. Mas não era de chulé que ela sofria.

"Tem sempre um pé torto para um chinelo velho", “Um dia ele aparece!” – Não para Tatiana. Ele nunca chegou, nunca ligou, nem mandou bilhetes. Tatiana não se apaixonou, não apaixonou, apenas encantou. Encantou enlouquecidamente mais de uma dúzia de rapazes, mas nunca ficou sabendo. Não era culpada de sua sina, afinal. Era apenas destinada a ela.

Hoje Tatiana vive em um apartamento lindo de viver! Todo colorido, todo pintado de poesia. Fotos na parede registram um mundo extraordinário vivenciado por nossa garota, a cozinha tem sempre comida cheirosa e gostosa, e o sofá é o mais delícia da região! Só a paixão que nunca quis entrar por ali. Houve noites calorosas, palavras ardentes, carinhos tortos. Mas amor, amor mesmo, nunca entrou por sua porta. E não era sua culpa, não era culpa de ninguém, era apenas sua realidade. 

Tatiana, 38, ainda sonha.

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